Cinco Passos - Capítulo VI
-O que foi isso?! - Exclamou Padre Carlos.
-Não sei, parece que veio de dentro da casa. - Falou minha mãe.
A criatura ainda estava no telhado, mas parece que somente eu via a assombração. Seus olhos vermelhos não mais brilhavam, mas olhavam direto para o horizonte, e foi então que pude finalmente ver mais detalhes da criatura...
As mãos dela eram finas e os dedos pontiagudos. Não tinha face, aliás, o corpo todo estava coberto por um manto negro fantasmagórico e rasgado.
-Vamos entrar! - Falei.
-Pietro, pegue as coisas no porta malas.
-Va bene.
-Padre Carlos, - continuou Ignácio - me traga a encomenda.
-Está bem.
-Carmen e Julio, vamos entrar. Tomem isto. - Disse o padre, entregando um rosário de madeira.
Entramos na casa. Todas as luzes estavam apagadas, e devido às nuvens pesadas do lado de fora, havia apenas uma grande penumbra pela cozinha. Silêncio total.
-Certo, prestem atenção. Aconteça o que acontecer, assim que ouvirem um ruído quero que tapem os ouvidos, entenderam? Mesmo que seja um ranger de uma porta, tapem os ouvidos. Por mais que se sintam ameaçados, não tirem a mão do ouvido e comecem a recitar o rosário. Aos poucos tudo vai passar. - Notificou Padre Ignácio. Algo estava para acontecer.
Pietro entrou com vários objetos. Duas câmeras, algo que parecia ser um microfone, um pequeno aparelho, uma espécie de lança de prata e um pote com água dentro. Padre Ignácio se aproximou das coisas que ele trouxe. Estendeu a mão sobre a água e recitou algumas palavras, fazendo o mesmo com os outros objetos. Logo em seguida chegou Padre Carlos. Trazia uma caixa de papelão lacrada e com vários selos. Entre eles pude reconhecer dois. Um continha o logo dos Correios, enquanto o outro trazia uma Coroa Tripla acima de duas chaves cruzadas.
-Padre Carlos, inicie a bênção do local por favor. Pietro, me ajude a abrir a caixa.
Neste momento, a água dentro do pote começou a borbulhar sem ação externa. Após alguns segundos, a água jorrou e virou vapor por completo.
-Santa Mãe de Deus! O que foi isso? - Disse Pietro.
-Estão querendo brincar conosco. - Falou Padre Ignácio - Mas mal sabem o que temos aqui.
Assim que disse isso, Padre Ignácio conseguiu abrir a caixa, e dela tirou um artefato muito interessante. Uma cruz parecendo muito antiga foi retirada da caixa. Era dourada e continha a imagem de Cristo crucificado.
-O que é isso? - Perguntei.
-Foi bom você querer saber. Vamos a uma pequena aula de história. Entre 962 e 1519, os Papas Romanos coroavam os Reis da Itália. Porém, durante o reinado de Maximiliano I, ele, com o consentimento do Papa Júlio II, aboliu uma tradição de quase 600 anos em se coroar o Rei da Itália. Porém, para não haver "brigas" ele presenteou o Sumo Pontífice com esta cruz. O que poucos sabem é que ela não foi um presente, muito menos para apaziguar as coisas. O castelo de Maximiliano I estava estranho. Seus filhos, Margarida e Filipe, diziam ver fantasmas no castelo. Foi então que ele mandou reunir uma boa quantidade de ouro e fundir uma cruz. Porém os tempos eram difíceis, e o máximo que conseguiu foi alguns quilos de cobre. Então, mandou fundir esta cruz e a cobriu com ouro. Mandou uma encomenda expressa para o Vaticano pedindo ao Papa para que abençoasse a cruz para então colocar em seu castelo e se livrar dos males. Mas as coisas estavam ruins no Vaticano, ou melhor, com o Papa. Assim que viu o artefato, abençoou-o mas não o devolveu por estar comprometido com outras causas. Recentemente, alguns pesquisadores notaram uma certa inscrição atrás da cruz, em italiano: Per mezzo di Cristo, espulso il male di questo posto. Assim que mencionei os acontecimentos desta cidade, o Bispo mandou uma carta expressa para o Vaticano solicitando a vinda de alguma ajuda. Mandaram isto e algumas instruções.
-Mas irá funcionar?
-Esta é a função. Pietro, coloque as câmeras a postos e ligue o microfone. Estas câmeras são capazes de medir qualquer variação de temperatura. O microfone serve para gravar sons em alta e baixa frequência, e este aparelho é um medidor de campo magnético. Desliguem todos os celulares e deixem as luzes apagadas, bem como qualquer outro eletrônico.
De repente, as luzes acendem e os telefones começam a tocar, todos ao mesmo tempo.
-Padre, estão tentando avacalhar o uso dos aparelhos! - Disse Pietro.
-Não... estão com medo e tentando nos tirar da casa. Não querem que saibamos quem são de fato, mas tenho uma noção. - Disse Ignácio - Deem as mãos. Esvaziem sua mente de tudo.
As luzes começaram a piscar, e piscaram até que explodiram. Os telefones pararam de tocar, e o silêncio se fez pela casa toda.
-Malditos sejam! - Exclamou Ignácio.
-O que houve, padre? - Perguntou minha mãe.
-Nada disso vai adiantar. Eles acabaram de sair da casa.
